Tema do EREB-CO

Resistência das Comunidades Originárias do Cerrado 

O EREB-CO 25 se constrói como um espaço de luta e celebração da resistência secular dos povos originários do Cerrado — indígenas, quilombolas, geraizeiros, vazanteiros e tantas outras comunidades tradicionais que mantêm viva a relação sagrada com este bioma. O Cerrado, conhecido como "berço das águas" por abrigar nascentes que alimentam 8 das 12 bacias hidrográficas brasileiras, enfrenta uma devastação silenciosa: mais da metade de sua vegetação nativa já foi destruída, vítima do avanço implacável do agronegócio, especialmente na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde a expansão da soja e a grilagem de terras avançam sobre territórios tradicionais.  

Enquanto a Amazônia ocupa os holofotes globais, o Cerrado vive uma crise invisibilizada. Comunidades como os Kalungas em Goiás, os Xakriabás em Minas Gerais e os quilombolas do Jalapão no Tocantins enfrentam diariamente a perda de seus territórios, a escassez de água causada por pivôs centrais que secam nascentes, e a violência de um modelo econômico que privilegia o lucro em detrimento da vida. Lideranças são ameaçadas, saberes ancestrais são desprezados, e crimes ambientais seguem impunes. A própria legislação, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), tem sido instrumentalizada para legitimar a grilagem e o desmatamento ilegal.

Mas a resistência persiste, tecida nas práticas cotidianas dessas comunidades. No Jalapão, o manejo sustentável do capim-dourado pelos quilombolas gera renda e conserva o bioma. No norte de Minas, as quebradeiras de coco babaçu mantêm viva uma economia solidária baseada no extrativismo. Projetos como o Programa Povos do Cerrado fortalecem cadeias produtivas da sociobiodiversidade, mostrando que é possível conciliar geração de renda com preservação ambiental.

No XLI ENEB, a escolha do tema "O Cerrado já foi mar" não foi apenas um convite à reflexão sobre as mudanças geológicas, mas também um chamado à ação política, com a participação de representantes de povos originários do Cerrado. É neste contexto que o EREB-CO 25 se insere, buscando fortalecer a articulação entre estudantes, movimentos sociais e comunidades tradicionais.

Nosso encontro será espaço para denunciar as violações, mas também para aprender com os modos de vida que há séculos convivem em harmonia com o Cerrado. Através de vivências com lideranças indígenas, oficinas de manejo agroflorestal e rodas de conversa, construiremos juntos alternativas concretas de resistência.  

O momento é urgente: enquanto o governo federal retoma políticas ambientais e cria o Ministério dos Povos Indígenas, a pressão do agronegócio só aumenta. Precisamos exigir a titulação de terras tradicionais, a proteção das nascentes e a efetiva implementação do Plano de Prevenção ao Desmatamento do Cerrado. Mas também precisamos agir localmente, apoiando mutirões de revitalização territorial, divulgando as cadeias produtivas sustentáveis e usando nossas vozes para romper o silêncio que cerca a destruição deste bioma. 

O Cerrado não é apenas um ecossistema — é um projeto de vida, um território de resistência cultural e política. O EREB-CO 25 será um grito coletivo em defesa desse patrimônio, um chamado para que estudantes de biologia se somem às lutas dessas comunidades. Porque defender o Cerrado é defender as fontes de água, a biodiversidade, e os povos que há gerações protegem esse chão com seus corpos e saberes.

Referências Bibliográficas